Alterações no sono fazem parte do processo normal de envelhecimento, com aumento da fragmentação do sono, despertares noturnos e sonolência diurna. No entanto, doenças neurodegenerativas que acometem muitas pessoas da terceira idade, como a doença de Alzheimer (DA), podem agravar ainda mais os distúrbios do sono. Abaixo, vamos entender um pouquinho melhor os mecanismos existentes entre o sono e a DA.
Estudos apontam que essa é uma relação bidirecional. Isso significa que distúrbios do sono podem ser fatores de risco para o desenvolvimento da DA, e também que os distúrbios do sono são um dos sintomas da DA.
Distúrbios do sono como fator de risco para DA
Estudos apontam que pessoas com histórico de queixas de sono têm maior probabilidade de desenvolver DA, em comparação àqueles que não apresentam queixas de sono. Distúrbios como insônia, sonolência diurna excessiva, sono de curta ou longa duração têm sido associados ao desenvolvimento da demência.
Estudos mostraram que tanto sono de curta como de longa duração funcionam como fatores de risco, sugerindo uma associação em forma de U entre a duração do sono e a predisposição ao desenvolvimento de demência.
Além disso, pessoas que possuem distúrbios respiratórios do sono também apresentam maior probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência.
Distúrbios do sono como um dos sintomas da DA
Os distúrbios do sono em pacientes diagnosticados com DA são semelhantes àqueles que ocorrem no processo normal de envelhecimento.
No entanto, as alterações do sono destes pacientes são mais graves: o sono REM apresenta algumas alterações específicas (atribuídas à disfunção do sistema colinérgico no desenvolvimento da DA), a vigília tem um período de duração maior, o sono é mais fragmentado, com aumento no número e duração de despertares noturnos, resultando em menor tempo e eficiência do sono.
Mecanismos entre os distúrbios do sono e DA
Alguns mecanismos explicam a relação entre o sono e o DA, sendo eles:
- Os distúrbios do sono estão relacionados ao desenvolvimento da DA pela redução do sono não REM;
- A diminuição da depuração das substâncias tóxicas do cérebro, provocadas pelos distúrbios do sono, pode predispor o desenvolvimento da DA;
- Os distúrbios do ritmo circadiano diminuem a neurogênese hipocampal, prejudicando a memória e aprendizagem, além de aumentar os marcadores inflamatórios sanguíneos.
Diante dessas relações, queixas sobre alterações do sono devem ser tratadas com seriedade, já que podem predispor o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como a DA. Além disso, intervenções voltadas ao tratamento dos distúrbios do sono podem impactar na história natural da DA e outras doenças neurodegenerativas.
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Bianca Andrade
Psicóloga (UFSCar), Mestra em Ciências do Movimento Humano (UDESC) e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (Unesp).
Referências
Borges CR, Poyares D, Piovezan R, Nitrini R, Brucki S. Alzheimer’s disease and sleep disturbances: a review. Arq Neuropsiquiatr. 2019 Nov;77(11):815-824.
Peter-Derex L, Yammine P, Bastuji H, Croisile B. Sleep and Alzheimer’s disease. Sleep Med Rev. 2015 Feb;19:29-38.
