Pare um pouquinho o que está fazendo e reflita: o que significa vulnerabilidade para você? Muitas pessoas respondem à essa questão afirmando ser uma característica de quem é vulnerável, isso é, de ser frágil, delicado, e até mesmo fraco. Vivemos em um contexto que não se permite ser vulnerável. A todo tempo, temos que ser fortes, perfeitos e bem-sucedidos nos mais diversos papeis que desempenhamos no nosso dia a dia. Tentamos manter a imagem de que está tudo bem e que estamos no controle de tudo.
A vulnerabilidade
Na verdade, a vulnerabilidade está associada à exposição a situações em que não podemos controlar o que virá depois. E, por estarmos expostos a situações em que não temos controle nem garantia sobre os resultados, temos a tendência de nos esquivarmos ou fugirmos de situações como essa, o que é compreensível. Afinal, o impulso de se afastar de qualquer situação que ameace nossa percepção de segurança, que possa resultar em erros, julgamentos, punições e rejeições, é natural e está relacionado aos nossos instintos de sobrevivência.
No entanto, sabemos que não é – nem precisa – ser assim. Sejamos sinceros: quantas vezes tivemos que ser vulneráveis e nos expor a situações em que não tínhamos controle, a “correr riscos”, e isso foi essencial para chegar onde estamos hoje? Encarar uma entrevista de emprego, mudar de cidade ou país, marcar o primeiro encontro, falar o primeiro “eu te amo”, começar uma nova modalidade esportiva. Nesse contexto, a vulnerabilidade consiste na disposição de se expor, de se expressar de forma genuína, de correr riscos e fazer coisas que não se tem controle sobre os resultados, mas que se revela como componente essencial para nossas realizações e desenvolvimento.
Coragem?
Brené Brown, uma pesquisadora americana, defende que ser vulnerável é ser corajoso para ser quem você é de fato, vivenciar sensações intensas, as quais dão sentido para a nossa vida e nos direcionam para uma vida plena. Em sua palestra “The Call to Courage”, disponível no Netflix (fica a super dica!), Brown cita uma frase de Theodore Roosevelt: “não é o crítico que importa, nem aquele que aponta onde foi que o outro tropeçou ou que diz o que poderia ter feito melhor. O crédito é do homem na arena, cujo rosto está sujo de poeira, suor e sangue; que luta bravamente, que erra, que decepciona. Aquele que, no final, embora conheça o triunfo da vitória, pode até fracassar, mas se arrisca a ser imperfeito”.
Além de enfrentar as situações do cotidiano que não se tem controle, Brown defende que ser vulnerável permite conexões mais genuínas com os outros, porque são capazes de abandonar quem acham que deveriam ser para se tornarem quem de fato são. Isso não significa que você será genuinamente aceito por todos, porque a rejeição é uma realidade – não conseguimos agradar 100% das pessoas, 100% do tempo. Mas o sentimento de ser aceito pelo que você é, é libertador.
A necessidade
Assim, vulnerabilidade não é uma característica negativa do ser humano. Na verdade, é uma característica necessária ao (ser) humano. Ser vulnerável significa se expor às diversas situações, que podem até ser dolorosas e desconfortáveis. Mas envolvem também uma aceitação profunda e sincera de si mesmo, com todos os seus erros e acertos. E é isso o que torna a nossa vida mais bonita ainda: permitir-se arriscar e ser, em todas as suas formas. Acredite: vale a pena ser corajoso e correr os riscos que a vida apresenta dia-a-dia. Como diz Brown: “ser vulnerável é difícil, assustador e até mesmo perigoso. Mas é muito mais difícil, assustador e até mesmo perigoso chegar ao fim da vida e ter que se perguntar: e se eu tivesse arriscado? E se eu tivesse dito que amava? Se arrisque. Se exponha. Você vale a pena”.
Referências:
BROWN, B. A coragem de ser imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.
<https://www.psychologytoday.com/intl/blog/the-beauty-in-the-beast/201201/am-i-worthy-lesson-1-in-vulnerability>