Muitas pessoas sofrem de cefaléia. Este é o nome técnico para “dor de cabeça“. Comumente associada a estresse, mas podendo ser gerada por diversas variáveis, desde a alimentação, até doenças mais graves. Uma relação muito importante, mas que poucas pessoas percebem, é que as dores de cabeça podem estar diretamente associadas à qualidade do sono. No artigo de hoje vamos falar sobre isto!
O QUE DIZ A CIÊNCIA?
Um estudo realizado pelo Brigham and Women’s Hospital e pelo Beth Israel Deaconess Medical Center, publicado na revista científica Neurology,da American Academy of Neurology, observou os hábitos noturnos dos participantes. O objetivo era “testar as hipóteses de que duração insuficiente, alta fragmentação e má qualidade do sono estão temporariamente associadas ao início da enxaqueca no dia imediatamente seguinte ao período em que está domindo e no dia seguinte”.
98 adultos com enxaqueca episódica completaram diários eletrônicos duas vezes ao dia sobre suas noites dormindo, dores de cabeça e outros hábitos de saúde e usaram medidores de pulso por 6 semanas. A incidência de enxaqueca foi estimada após noites com curta duração da noite, alta fragmentação ou baixa qualidade em comparação com noites com uma qualidade mais adequada.
A conclusão do estudo foi de que “a curta duração do sono e a baixa qualidade do mesmo não foram temporariamente associadas à enxaqueca”. Porém, “a fragmentação do sono, definida pela baixa eficiência do sono, foi associada a maiores chances de enxaqueca no dia seguinte”.
ESTUDOS BRASILEIROS
Um estudo realizado no Brasil, no departamento de psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), observou que “o despertar noturno com dor de cabeça foi associado à insônia, síndrome das pernas inquietas, bruxismo e pesadelos”.
Em artigo publicado na Sleep Science, os mesmos pesquisadores afirmam que “Existe uma associação clara entre dores de cabeça primárias e distúrbios do sono, especialmente quando essas dores de cabeça ocorrem à noite ou ao acordar”.
A recomendação dos pesquisadores é que “Todas as avaliações de pacientes com dor de cabeça devem incluir perguntas sobre os padrões de sono e queixas relacionadas. Pacientes com dor de cabeça durante a noite ou ao acordar, que são resistentes aos tratamentos prescritos requerem avaliações através de polissonografias a fim de excluir um distúrbio do sono tratável”.
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TIPOS DE CEFALEIA ASSOCIADOS A DISTÚRBIOS DO SONO
Os pesquisadores da UNIFESP descrevem ainda neste artigo, alguns dos principais tipos de dores de cabeça associados com os distúrbios, que passamos a citar:
- Enxaquecas: dores de cabeça graves, geralmente unilaterais, cujos sintomas são fotofobia, fonofobia, náuseas, vômitos, transtornos de humor e alterações sensoriais. Estão intimamente ligadas ao sono, mais comumente à insônia, e podem ocorrer por falta de sono ou por dormir demais.
- Cefaléias em salvas: São dores de cabeça graves, insuportáveis, geralmente relacionadas com lacrimejamento e congestão nasal. As crises ocorrem, geralmente, 90 minutos após o paciente dormir, coincidindo com o primeiro episódio de sono REM.
- Cefaléias tensionais: Estas dores podem ser episódicas ou crônicas. O diagnóstico das dores episódicas requer uma história pregressa de 10 episódios com duração de 30 minutos a 7 dias e uma pressão que comprime bilateralmente a cabeça. Náuseas, vômitos, fono ou fotofobia excluem o diagnóstico de cefaléia tensional. As dores crônicas ocorrem mais de 15 dias por mês. A insônia tem sido associada às dores de cabeça crônicas e pode piorar o prognóstico para a dor de cabeça tensional.
- Dor de cabeça hípnica (dor de cabeça “despertador”): é um tipo raro de dor de cabeça crônica primária, que ocorre exclusivamente durante o sono, usualmente em pessoas com mais de 50 anos de idade. É caracterizada por ligeira a moderada dor que acorda o paciente, podem ocorrer mais de 15 vezes por mês e a dor permanece por 15 minutos ou mais após despertar. É o único tipo de dor de cabeça que está estritamente relacionada com o ato de dormir (dia ou noite) e acorda o paciente. Pode estar associada a uma disfunção hipotalâmica, pois implica numa desregulação do sono x vigília.
- Cefaléias secundárias relacionadas ao sono (distúrbios da homeostase): dores de cabeça matinais, acompanhada de foto ou fonofobia, atribuída à apnéia. Para diagnosticar, observa-se a presença dores de cabeça recorrentes (mais de 15 dias por mês), que aparecem no despertar e desaparecem após o tratamento eficaz da apnéia.
CONCLUSÃO
A literatura científica é amplaquanto à associação entre o sono e as dores de cabeça. Portanto, se você sofre de cefaléia, vale a pena atentar para o sono. Um médico poderá te orientar e encaminhar para realizar uma polissonografia, caso seja necessária.
Agora, independente de exames laboratoriais mais precisos e complexos, você mesmo pode adotar alguns hábitos de higiene do sono, que podem ter impacto direto nas dores. É evidente que estes hábitos não excluem a ajuda médica, principalmente caso persistam os sintomas. Mas podem atuar preventivamente e sem contra-indicações.
Caso queira saber mais sobre como cuidar de você na hora de dormir, o blog da UKOR está repleto de informações úteis para te ajudar nesta jornada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1: Disponível em: https://n.neurology.org/content/94/5/e489
2: Lucchesi LM, Speciali JG, Santos-Silva R, Taddei JA, Tufik S, Bittencourt LR. Despertar noturno com cefaleia e sua relação com distúrbios do sono em uma amostra de base populacional de habitantes adultos da cidade de São Paulo, Brasil. Cefaléia. 2010; 30 (12): 1477-85.
3: Yagihara F, Lucchesi LM, Smith AKA, Speciali JG. Primary headaches and their relationship with sleep. Sleep Sci.2012;5(1):28-32. Disponível em http://www.sleepscience.org.br/details/66/en-US/primary-headaches-and-their-relationship-with-sleep
4: Um artigo que cita a literatura está disponível em https://www.headeneckfisioterapia.com.br/sono-e-enxaqueca-descubra-a-relacao/