Imagine que você e um amigo muito próximo estão sentados em uma cafeteria. Ele está muito decepcionado, contando sobre a última entrevista de emprego da qual participou e não foi aprovado. Era uma vaga que ele havia sempre sonhado, mas infelizmente não conseguiu. E você começa a questioná-lo, perguntando “será que você é tão bom assim?”, “talvez você não seja bom em nada”, “você deve estar sonhando muito alto”.
Talvez você esteja pensando que nunca falaria assim com um amigo que está passando por um momento difícil como esse. Mas e quando é você que acabou de ser reprovado em uma entrevista? Como você fala com você mesmo em momentos difíceis como esse?
Pesquisas apontam que o ser humano é muito mais severo com si mesmo do que com os seus amigos. Elas sugerem que a maioria das pessoas gastam muita energia com a autocrítica exagerada, dizendo coisas como “você é péssimo”, “você não é bom em nada” ou “por que você não desiste?”.
Mas por que fazemos isso?
Por que somos tão duros com nós mesmos? Seria um mecanismo que favoreceria o nosso desenvolvimento e evolução? Não. Kristin Neff, professora e pesquisadora da Universidade do Texas, tem estudado a autocompaixão que, segundo ela, “não é uma maneira de nos julgar positivamente, mas é uma forma de nos relacionarmos gentilmente, abraçando a nós mesmos, com todas nossas falhas”. Significa a compreensão de que o sofrimento, o fracasso e a imperfeição fazem parte da experiência humana, não julgando essas experiências com tanta dureza ou severidade. Estudos mostram que pessoas com maior autocompaixão experimentam menos ansiedade, depressão, vergonha, sentimentos de inferioridade e estresse. Ainda, elas apresentam maior satisfação com a vida, otimismo, felicidade e motivação. Então, ao invés de nos julgarmos exageradamente e sermos muito duros com nós mesmos, por que não praticar a autocompaixão?
O que é autocompaixão?
A autocompaixão é composta por três elementos essenciais: o mindfulness, a condição humana e a compreensão. O mindfulness, ou atenção plena, envolve reconhecer que não há problema nenhum em falhar, mas que precisamos enfrentar nossos sentimentos e atitudes de uma maneira menos crítica e sem julgamentos. A condição humana refere-se ao reconhecimento de que todos sofrem e, por mais que pareça nas redes sociais que a vida é feita somente de momentos felizes e perfeitos, todos nós temos problemas e está tudo bem sofrer algumas vezes. Por fim, a compreensão nos mostra como é importante sermos bondosos com nós mesmos, demonstrando o mesmo cuidado que temos com os nossos amigos e familiares mais próximos.
Assim, na próxima vez que falhar ou fracassar, talvez seja útil tomar consciência dos seus sentimentos sem julgamentos, reconhecer que todos passam por isso e sofrem de alguma forma, e oferecer a você mesmo o acolhimento gentil e amoroso que oferece aos seus amigos.
Exercício para a autocompaixão
Separe 5 minutinhos do seu dia para fazer esse exercício. É mais do que o suficiente! Pegue uma folha de papel e uma caneta, e responda às seguintes questões:
- Pense em momentos em que um amigo próximo estava desabafando com você, se sentindo mal ou fracassado por alguma situação. Como você reagiu ou reagiria nessa situação? O que você disse ou diria a ele?
- Pense em momentos em que você estava se sentindo mal consigo mesmo, se sentindo fracassado. Como você respondeu ou responderia a si mesmo nessa situação? O que você disse ou diria?
- Você notou alguma diferença? Se sim, por quê? O que o leva a tratar a si mesmo e aos outros de maneira tão diferente?
- O que poderia ser diferente se você responder a si mesmo da mesma maneira que responde à um amigo próximo?
Repetir diariamente esse exercício pode ajudá-lo a melhorar a sua autocompaixão. Além disso, a meditação também pode ser uma ferramenta muito importante para ser mais gentil com si mesmo! Depois de algum tempo, esse exercício será mais natural e você poderá sentir os benefícios no seu dia a dia! Pratique a autocompaixão: você merece!
Referências:
NEFF, K. D.; RUDE, S. S.; KIRKPATRICK, K. L. An examination of self-compassion in relation to positive psychological functioning and personality traits. Journal of Research in Personality, v.41, p. 908-916, 2007.
NEFF, K. D. The development and validation of a scale to measure self-compassion. Self and Identity, v.2, p.223-250, 2003.
GILBERT, P.; PROCTER, S. Compassionate mind training for people with high shame and self-criticism: Overview and pilot study of a group therapy approach. Clinical Psychology and Psychotherapy, v.13, p.353-379, 2006.
GILBERT, P.; IRONS, C. A pilot exploration of the use of compassionate images in a group of self-critical people. Memory, v.12, p.507-516, 2004.
<https://www.psychologytoday.com/intl/blog/positive-living/201902/the-power-self-compassion>