As taxas de suicídio têm aumentado exponencialmente nas últimas décadas, e preocupado não só as Organizações de Saúde, mas a sociedade como um todo, como pais, filhos, amigos e familiares. Tem sido cada vez mais comum conhecermos pessoas próximas que passaram por isso, e muitas vezes nos sentimos impotentes diante situações como essa.
Cultura da Felicidade
A cultura da felicidade, predominante nos dias de hoje, prega que devemos ser felizes a todo momento, de que devemos vivenciar apenas momentos prazerosos em nossas vidas. No entanto, também passamos por momentos difíceis, e sentimentos de tristeza, raiva, frustração, culpa e cansaço podem surgir. E não há mal nenhum nos permitimos vivenciar esses sentimentos. Afinal, eles fazem parte da nossa jornada e podem ser funcionais em vários sentidos.
Contudo, muitos buscam a fuga ou esquiva desses sentimentos, tentando “não viver o sofrimento”. Diante de momentos difíceis, como por exemplo o término de um relacionamento, optamos por ir para festas e “não ficar sofrendo”. Quando perdemos um ente querido, não nos permitimos vivenciar o luto e tentamos seguir a vida o mais rápido possível. E, em situações mais extremas, pessoas que estão em intenso sofrimento emocional acabam fugindo da própria vida.
O momento atual
E não só nós mesmos tentamos reprimir os sentimentos negativos. Os outros também o fazem. Cada vez menos temos espaço para falar sobre nossas angústias, tristezas e preocupações. Somos ignorados ou punidos quando tentamos compartilhar nossos sentimentos negativos, com frases do tipo “você não precisa ficar assim”, “você tem tudo”, “você não tem motivo para reclamar”, e até mesmo o “vai dar tudo certo” pode soar como indiferença ao que estamos sentindo.
Esses comportamentos de repressão ou fuga dos nossos sentimentos negativos não evitam a causa do problema, e sim os seus efeitos. No entanto, muitas vezes esses efeitos são importantes para que saibamos lidar adequadamente com a situação-problema, respondendo funcionalmente a ela. Ao término de um relacionamento, por exemplo, sentir tristeza é comum, e pode nos ajudar a elaborar melhor o que passou e o que queremos para o nosso futuro. Ainda, a fuga desses sentimentos pode gerar um efeito oposto, como a ruminação de pensamentos negativos.
Por exemplo, se eu disser para você não pensar em um elefante rosa andando de bicicleta, provavelmente você já o tenha imaginado antes mesmo de se dar conta. E é isso que pode acontecer com nossos pensamentos e sentimentos. Tentar reprimir a tristeza relacionada à morte de um ente querido, por exemplo, pode gerar ainda mais angústia, tanto pela incapacidade de reprimi-la quanto pela culpa da mesma.
Aceitação
Assim, a Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT) defende que devemos aceitar os sentimentos negativos, implicando no enfrentamento consciente desses momentos, sem tentativas desnecessárias de repressão ou modificação. Isso não se refere à uma atitude passiva ou de resignação, mas como uma prática de se expor às experiências sem tentar modificar, controlar ou suprimir estas.
A ACT defende também a não identificação com os sentimentos ou pensamentos. Geralmente, acreditamos que nós somos estes pensamentos, adotando alguns deles como verdades absolutas, e acabamos agindo sob o controle deles. “Tudo na minha vida está ruim” ou “eu não sou bom o bastante” podem até passar em nossa mente. Mas é importante notar que esses pensamentos – que podem ser tanto positivos quanto negativos – são momentâneos e passam, e não representam o que de fato somos no nosso dia-a-dia.
Além de outras características, a ACT defende que podemos nos permitir vivenciar momentos negativos, ou seja, parar de tentar evita-los. Significa deixar que esses sentimentos e pensamentos surjam e desapareçam de um modo natural. É importante que às vezes vivenciemos a tristeza, raiva, frustração e cansaço. Isso pode ser funcional para que possamos responder de maneira adequada às situações do nosso dia a dia. No entanto, ressalta-se que esses estados são passageiros e não precisam ser uma fonte de sofrimento duradoura. Caso contrário, busque a ajuda de um profissional especializado!
Referências
HAYES, S. C.; PISTORELLO, J.; BIGLAN, A. Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio. Rev. bras. ter. comport. cogn., v.10, n.1, p. 81-104, 2008.<https://www.comportese.com/2017/03/o-sentir-e-tristeza-um-olhar-analitico-comportamental>