As crescentes demandas do mundo moderno têm tomado cada vez mais tempo do nosso dia a dia. Ou seja, o número de tarefas aumentou, mas continuamos com “apenas” 24 horas por dia para resolvê-las. E, nessa conta, muitas pessoas têm dormido mais tarde e/ou acordado muito mais cedo para lidar com todos os afazeres.
Ao mesmo tempo, fica cada vez mais evidente que o custo da falta de sono é muito maior do que as pessoas pensam.
Pesquisas científicas têm revelado que não só a diminuição da quantidade, mas também da qualidade do sono, podem levar à um aumento de erros no trabalho, na diminuição da produtividade e na ocorrência de acidentes que podem custar muito caro, e até mesmo vidas.
Falta de sono e acidentes fatais
A privação de sono pode não ser muito comentada nos noticiários, talvez por ser um fenômeno naturalizado no nosso cotidiano ou pelas nossas rotinas corridas.
O que vemos nos noticiários, talvez, seja a “ponta do iceberg”, como acidentes graves ocorridos em decorrência da fadiga e da falta de atenção, causados pela privação de sono.
Nos hospitais, tem sido verificado uma associação entre a falta de sono e a ocorrência de erros médicos. De acordo com os Institutos de Medicina dos Estados Unidos, mais de um milhão de complicações e de 50.000 a 100.000 mortes por ano resultam de erros médicos evitáveis, já que grande parte deles poderia ser causado pela privação de sono.
A estimativa é de que os médicos, em especial os recém-formados, trabalhem continuamente por 24 a 36 horas, com pouca ou nenhuma oportunidade para dormir.
Um estudo realizado pela Divisão de Medicina do Sono da Universidade de Harvard verificou que os hospitais poderiam reduzir o número de erros médicos em 36% limitando os plantões a 16 horas e reduzindo a jornada de trabalho semanal para menos de 80 horas.
Outro contexto em que a falta de sono pode ser fatal é nas estradas. A Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos revelou que 60% dos motoristas relataram ter dirigido enquanto estavam com sono no último ano, e que mais de 33% dormiram ao volante.
No Brasil, cerca de 20% dos acidentes de trânsito estão associados à sonolência, sendo uma das principais causas de acidentes com mortes nas rodovias, envolvendo principalmente jovens, motoristas profissionais e trabalhadores noturnos.
Como a privação de sono afeta a nossa performance mental?
A falta de sono, seja apenas por uma noite ou durante semanas ou meses, tem um efeito significativo em nossa performance mental, afetando negativamente o nosso humor, a capacidade de concentração e a realização de funções cognitivas superiores.
Pesquisas realizadas com eletroencefalogramas (EEG) verificaram que há uma redução significativa na atividade cerebral, indicando um baixo nível de alerta e uma propensão geral para dormir.
Outras pesquisas apontam que a privação do sono atinge negativamente o córtex pré-frontal, já que com o cansaço, menos glicose é direcionada à essa região, reduzindo a sua atividade.
Isso compromete nossas funções cognitivas superiores, como o planejamento, a tomada de decisão, a atenção, a memória de trabalho e o autocontrole, gerando maior impulsividade, agressividade e inadequação social.
Dicas para equilibrar as demandas do cotidiano e do sono
De tudo que vimos até aqui, deu para perceber que comprometer suas horas de sono para trabalhar mais pode ser um tiro no pé, já que vai afetar negativamente a sua produtividade e pode gerar maior número de erros e acidentes.
Assim, sua rotina pode estar corrida, você pode ter mil afazeres, mas a quantidade e a qualidade de sono ideal pode ajudar você a resolvê-las de forma mais eficiente. Seguem algumas dicas para equilibrar a sua rotina corrida e seu sono:
Estabeleça um horário para deitar e levantar
Pode ser que em alguns dias você tenha mais afazeres que outros, mas tente manter um horário fixo para se deitar e levantar, considerando a recomendação de 7 a 9 horas de sono por noite.
Além de controlar a quantidade, dormir e acordar todo dia, mais ou menos no mesmo horário, ajuda a regular o nosso relógio biológico, diminuindo as chances de insônia.
Substitua atividades
Caso o volume de tarefas esteja muito alto, pense em outras áreas que você possa reduzir o tempo de engajamento, que não o seu horário de sono.
Considere diminuir o uso do celular e das redes sociais e de outras atividades que não tenham uma utilidade aparente, para fazer atividades realmente importantes e que não comprometam o seu tempo adequado de sono.
Cuide da higiene do seu sono
Para garantir a qualidade do seu sono, evite antes de deitar: a prática de exercícios físicos, a ingestão de substâncias estimulantes (cafeína), a realização de atividades que exijam alto nível de concentração e o uso de aparelhos eletrônicos (celular e tablets).
Lembre-se: não deixe de dormir para trabalhar mais, durma para trabalhar melhor!