No Brasil, desde o dia 15 de outubro de 2021, foi liberado pela Anvisa a comercialização da melatonina. Além disso, não há necessidade de prescrição médica para a sua venda ou compra. Tal decisão, como mostra uma reportagem realizada pela BBC NEWS [1], causou cautela em profissionais da área, que alertaram ao público a ter cuidado com o uso indiscriminado da melatonina, por essa não se tratar de uma substância qualquer, já que participa em diferentes funções no corpo, sendo que seu mau uso pode trazer consequências nosso organismo.
Desse modo, é fundamental para o profissional do sono saber o que é a melatonina, qual seu papel no nosso ciclo sono-vigília e quando é recomendável que ela seja prescrita ou não.
Resumindo, as perguntas que o médico deve fazer sobre a melatonina são: o que é? O que faz? Quando usar? Quando não usar?
E são essas questões que guiarão o texto a seguir.
O que é a melatonina?
A melatonina é um hormônio natural produzido pelo nosso corpo em baixos níveis ou na ausência de luz. Assim, quando estamos expostos a luz, solar ou não, nosso corpo não produz melatonina. Com isso, sua produção ocorre principalmente ao fim do dia, quando os estímulos luminosos costumam estar diminuindo.
Qual a função da melatonina?
Para o sono, a melatonina tem um papel regulador no Processo Circadiano, ou seja, sua principal função é regular o ciclo sono-vigília que ocorre diariamente. Colocando em outras palavras, ela é um hormônio que sinaliza o corpo quando o horário de adormecer está chegando.
Como a produção da melatonina ocorre de acordo com a exposição luminosa, ela costuma estar em níveis mais baixos de dia e se mantém altos ao longo da noite, com seus níveis baixando novamente no momento de despertar.
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Quando usar a melatonina?
Devido sua participação no ciclo circadiano, a melatonina é recomendada para transtornos relacionados com esse ciclo sono-vigília. Desse modo, existem alguns transtornos relacionados com o ritmo circadiano nos quais o uso da melatonina é recomendado.
Segundo as recomendações da Academia Americana de Medicina do Sono [2], a melatonina é recomendada para:
Jet Lag
Transtorno que ocorre quando se viaja entre diferentes fusos horários e ocorrem complicações para se ajustar ao novo cronograma. Pesquisas mostraram que o uso da melatonina pode diminuir os sintomas desse transtorno.
Mudança de turno do trabalho
Transtorno que ocorre quando há dificuldade de se ajustar à alterações na rotina do sono devido ao cronograma do trabalho. Nesse caso, a melatonina pode ajudar na qualidade e duração de alguns trabalhadores com turno noturno.
Atraso de fase do ciclo sono-vigília
Ocorre quando uma pessoa tem um padrão de sono que acontece em torno de duas horas ou mais em relação às normas sociais. O uso da melatonina pode fazer com que o cronograma de sono da pessoa se inicie antes.
Avanço do ciclo sono vigília e ritmo irregular do ciclo sono vigília também são transtornos do ritmo circadiano do sono que a melatonina pode ser benéfica, por motivos semelhantes ao transtorno do atraso de fase.
Quando não usar a melatonina?
Nesse momento do texto, é possível de já estar se perguntando sobre o uso da melatonina em casos de insônia.
Para a insônia, a Academia Americana de Medicina do Sono, em diretriz publicada em 2017 [3]. Não recomenda o uso de melatonina no tratamento, pelo motivo de existirem até o momento ainda poucos estudos sobre a eficácia e segurança para que o uso possa ser recomendado. Para o tratamento da insônia, em outra diretriz publicada em 2021 [4], é recomendado a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia.
Conclusões
A melatonina é um hormônio produzido no corpo quando há baixos ou nenhum nível de luminosidade. Ela participa do ritmo circadiano, sinalizando para o nosso corpo os horários de dormir. Quando existem transtornos no ciclo sono-vigília, o uso da melatonina pode ajudar no quadro do paciente.
Entretanto, para se usar a melatonina, é necessário entender bem o quadro do seu paciente. Primeiramente, um diagnóstico sobre qual o transtorno do sono a ser tratado é muito importante. Com isso, é possível escolher o tratamento mais adequado e seguro.
Para se prescrever a melatonina, isso se mostra muito importante, já que pode ocorrer da sua prescrição para transtornos em que seu uso não é recomendável, como por exemplo no caso da insônia.
Além disso, para a melatonina, é fundamental também que os horários de consumo sejam sempre constantes, já o seu consumo além da produção natural do corpo modifica o cronograma do ritmo circadiano.
Recomenda-se ao profissional do sono a consulta das diretrizes citadas ao longo do texto.
Referências
[2] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2082098/
